O Ministério Público Estadual convocou uma coletiva de imprensa para apresentar à sociedade sergipana os resultados das primeiras análises realizadas em amostras de água, pescado e sedimentos após o derramamento de óleo que atingiu o litoral nordestino no ano passado. Até dezembro de 2019, foram afetadas 903 praias, em 127 municípios de 11 estados, incluindo o Espírito Santo e o Rio de Janeiro. O problema foi detectado inicialmente em 30 de agosto, na Paraíba, e chegou à fase mais crítica entre outubro e novembro, quando houve a coleta o material analisado.
“Diante desse grande dano ambiental, nós montamos uma força-tarefa, articulada pela Coordenadoria Geral do MP e começamos a monitorar as questões relacionadas ao pescado, ao crustáceo, à areia e à própria água que era consumida pela população. A Promotoria de Defesa do Consumidor instaurou um Inquérito Civil e a Universidade Federal de Sergipe (UFS) se prontificou a fazer a coleta e a análise do material. Hoje, temos o primeiro relatório, que aponta não haver riscos para a população”, disse a promotora de Justiça Euza Missano. No entanto, ela ressaltou que o monitoramento precisa continuar porque os compostos químicos do óleo não se dissipam facilmente.
A promotora de Justiça Cláudia Calmon, assessora da Coordenadoria Geral, explicou que as substâncias envolvidas no desastre produzem um efeito bioacumulativo, ou seja, permanecem concentradas na cadeia alimentar. Ela acrescentou que a continuidade do monitoramento, realizado em 10 estuários sergipanos, requer um aporte de recursos, o que será discutido em reunião com a presença de representantes do Governo do Estado e da UFS. “Tentaremos esse aporte pelo Estado, que, posteriormente, poderá acionar a União para recuperar o valor, já que a responsabilidade principal é da União. A universidade apresentará um planejamento com cronograma bem definido”, pontuou Cláudia.
“Coletamos amostras em 10 estuários, pontos que foram afetados pelo derramamento de óleo. Nosso estudo (feito no período entre novembro e dezembro) demonstrou que o quantitativo de produtos químicos avaliados está dentro da faixa de normalidade, considerando critérios nacionais, no caso da água, e internacionais, no caso do pescado. É importante ressaltar que essa análise foi feita no período pós-desastre. Os compostos químicos permanecem-na natureza, então, nessa primeira fase, não houve um acréscimo significativo, mas há a necessidade de um monitoramento contínuo porque os peixes se alimentam e podem absorver materiais contaminados. Isso pode inverter os resultados. Monitorar por mais tempo, de forma sistemática, garantirá segurança à população. Sugerimos, pelo menos, 5 anos”, comentou o professor Valter Santana, vice-reitor da UFS. Ele esteve acompanhado pelos pesquisadores Maria Terezinha Leite, professora do Departamento de Tecnologia de Alimentos e Silvânio Costa, professor do Laboratório de Tecnologia e Monitoramento Ambiental.
Para o diretor-presidente do Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS), Kaká Andrade, “essa primeira campanha é uma fotografia daquele momento em que as amostras foram coletadas”. “Tudo depende muito do movimento das marés, por exemplo. Se, de repente, você faz nesses mesmos pontos, com a maré alterada, os números podem ser diferentes. Portanto, apenas uma análise não oferece a garantia de que não houve contaminação nos estuários de Sergipe. Embora o resultado seja animador, um programa de monitoramento contínuo é o mais indicado”, completou Andrade.
Quanto ao surgimento de mais manchas nos últimos dias, o engenheiro Antonelle Moaris, representante da Adema (Administração Estadual do Meio Ambiente), descartou a possibilidade de um novo derramamento. “Não temos evidências de manchas novas. As que estão aparecendo agora são resquícios do mesmo óleo, desenterrado pela ação da maré alta. É importante tranquilizar a sociedade, porque não se trata de óleo novo”, destacou.
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